13 DE SETEMBRO – DIA NACIONAL DA CACHAÇA
No dia 13 de setembro, o Brasil celebra o Dia Nacional da Cachaça, uma data que vai muito além de um simples brinde. Ela remonta a um episódio histórico de resistência e luta, conhecido como a Revolta da Cachaça, e reforça o papel fundamental da bebida como símbolo da identidade e da cultura nacional. Para entender a profundidade dessa história, conversamos com Nelson Alves, um apaixonado por cachaça, colecionador, degustador e estudioso da bebida, que reside em Nova Olímpia.
A Revolta da Cachaça: Quando a Bebida virou Símbolo de Luta
Em 1649, a Coroa Portuguesa, preocupada com a queda na arrecadação devido à preferência popular pela cachaça em detrimento da bagaceira (um destilado português), e do Vinho do Porto, decretou a proibição da produção e venda da bebida no Brasil. A medida, que visava proteger os interesses econômicos da metrópole, gerou uma imensa insatisfação entre produtores e consumidores.
A tensão explodiu em 1661, no Rio de Janeiro. A Coroa, sob o comando do governador Salvador Correia de Sá e Benevides, intensificou a fiscalização, invadindo e destruindo alambiques e depósitos de cachaça. Os motivos eram claros: a cachaça era vista como uma ameaça ao monopólio português e à estabilidade da bagaceira e do vinho no mercado brasileiro. Os brasileiros, sentindo-se explorados se uniram em protesto.
“A Revolta da Cachaça foi um marco”, explica o cachacista. “Ela não foi apenas sobre uma bebida; foi um grito de liberdade, um protesto contra a opressão econômica e a tentativa de Portugal de controlar nossa produção. Os revoltosos depuseram o governador, mostrando que a cachaça era mais do que uma bebida: era um símbolo de resistência e do nosso espírito nacional.” A revolta culminou com a deposição do governador e a proibição só foi revogada em 1662, após a chegada de um novo governador. É por isso que o 13 de setembro, dia em que a revolta eclodiu, foi escolhido para a celebração nacional da cachaça, oficialmente instituída por meio do Decreto nº 4.851, de 29 de outubro de 2003.
De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça-IBRAC, a história da cachaça começa no século XVI, com a chegada da cana-de-açúcar ao Brasil. Inicialmente, a bebida era um subproduto da produção de açúcar, mas rapidamente conquistou o paladar popular e se tornou uma alternativa econômica e culturalmente importante.
A cachaça é, hoje, o destilado mais consumido no Brasil, bem como no mundo. A sua importância econômica é inegável, gerando milhares de empregos em toda a cadeia produtiva. Os principais estados produtores, como Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco e Ceará, concentram a maior parte da produção. No consumo, a bebida está presente em todas as regiões, com destaque para os estados do Nordeste e Sudeste, que lideram o consumo per capita. As cachaças de maior volume de vendas no mercado nacional são as de marcas amplamente conhecidas, como 51, Velho Barreiro, Pitu e Ypióca.
A Cachaça Conquista o Mundo: Exportação em Crescimento
O potencial da cachaça não se limita ao mercado interno. “O mundo está descobrindo a cachaça”, afirma Nelson. “Ela está ganhando espaço e reconhecimento, não apenas como base para a caipirinha, mas como um destilado de alta qualidade, comparável a runs e uísques”.
A exportação de cachaça tem crescido consistentemente. Em 2022, por exemplo, o Brasil exportou 9,31 milhões de litros da bebida para mais de 76 países, gerando uma receita de US$ 20,80 milhões, o que equivale a mais de R$ 100 milhões (com base na cotação média do período). Em volume, esse número representou um aumento de 29,03% em relação a 2021. Os principais países de destino em volume foram Alemanha, Paraguai, Estados Unidos, França e Portugal.
O Sabor da Tradição: A Importância da Cachaça Artesanal
Para Nelson, a cachaça artesanal é a verdadeira joia da coroa. "É nela que a gente encontra a alma do produtor, a história da região. A cachaça industrial busca padronização, enquanto a artesanal busca a singularidade, o sabor único que vem do cuidado com a cana, da fermentação natural e do envelhecimento em madeiras brasileiras", explica.
A produção artesanal não só valoriza a tradição familiar e os métodos passados de geração em geração, como também impulsiona a economia local, criando empregos e fortalecendo o turismo nas regiões produtoras. O uso de madeiras como o jequitibá, a amburana e o bálsamo, por exemplo, confere à bebida notas sensoriais que a distinguem de outros destilados, elevando a cachaça a um patamar de bebida premium no mercado internacional.
Atualmente, o Brasil possui mais de 1.200 alambiques registrados, mas estima-se que existam cerca de 40.000 em todo o país, grande parte de produção artesanal. A produção de cachaça artesanal, embora não tenha um número exato e consolidado, representa uma parte significativa da produção total. Minas Gerais, por exemplo, o maior produtor do país, tem cerca de 200 milhões de litros de cachaça artesanal por ano, o que corresponde a aproximadamente metade da produção nacional de cachaça de alambique.
Entre as cachaças artesanais mais renomadas do Brasil, Nelson faz questão de citar algumas que são verdadeiras referências:
- Salinas (MG): Cachaça Havana, Anísio Santiago, Salinas dentre centenas de outros rótulos.
- Paraty (RJ): Cachaça Coqueiro, Cachaça Paratiana e Cachaça Corisco.
- São Paulo: Cachaça Vale Verde e Cachaça Maria Izabel.
- Rio Grande do Sul: Cachaça Weber Haus.
- Luiz Alves (SC): Conhecida como a “Capital da Cachaça”, o município produz a renomada Cachaça Bylaardt, além de outros rótulos famosos como a Spezia e a Rein.
- Alagoas: A região de Pindoba se destaca com a Cachaça Gogó da Ema, enquanto Viçosa é conhecida pela Cachaça Mulata. O estado também é lar da cachaça Caraçuípe.
-Areia (PB): A Paraíba tem sua tradição em Areia, com cachaças como a Cachaça Volúpia, a Cachaça Serra Limpa e a Cachaça Matuta, que se destacam pela qualidade.
- Espírito Santo: O estado é conhecido pela produção da Cachaça Santa Terezinha e Princesa Isabel, mostrando a força do destilado na região.
- Norte do Brasil: Mesmo em Estados menos tradicionais, a cachaça encontra seu espaço. No Pará, a Cachaça do Índio em Santarém e a Xinguaça são referências. Em Rondônia, o Alambique Bom Jesus em Presidente Médici produz a Cachaça Bom Jesus e também a Cachaça Lorenzon, de Cacoal. No Acre, destaca-se a Cachaça Acreana e Cobra Coral, e no Tocantins, a cooperativa de Combinado, produz a Dama dos Azuis, além dos produtores de Palmeira e Palmeirinha, dentre outras.
"Esses são apenas alguns exemplos. Cada região do Brasil tem cachaças maravilhosas, e a beleza é justamente essa diversidade", complementa Nelson, que se dedica a colecionar e degustar o que há de melhor na produção nacional.
A Cachaça de Mato Grosso
Para Nelson, a cachaça de Mato Grosso tem um sabor especial. “Temos aqui um potencial enorme. O clima e o solo do nosso Estado são perfeitos para a cana-de-açúcar. Isso resulta em cachaças com características únicas.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Mato Grosso possui sete alambiques registrados, mas o número real de produtores é significativamente maior, já que muitos atuam de forma artesanal e informal. “Essa informalidade, embora traga desafios, também mostra a força da tradição familiar e o potencial de crescimento da cachaça no nosso Estado”, pontua Nelson.
Questionado sobre as principais cachaças e alambiques de Mato Grosso, ele destaca alguns nomes de peso, muitos deles com produções artesanais e de alta qualidade:
- Chapada dos Guimarães: O destaque fica para a cachaça Geodésica, conhecida por ser um produto diferenciado, ideal para a degustação.
- Sinop: No Sítio Santa Fé, a Cachaça Caleffi se destaca, com um processo de produção artesanal.
- São José do Rio Claro: A Cachaça Água Clara é uma referência, com tipos branca, envelhecida em barril de amburana e carvalho.
- Colniza: O alambique produz a cachaça Morada da Serra, uma das joias do oeste mato-grossense.
- Poconé: A cachaça Serra Pantaneira é produzida de forma artesanal, em uma região de assentamento quilombola, valorizando a tradição e o trabalho manual.
- Comodoro: A Cachaça Sucuri, produzida pela família Zanin, é um exemplo de tradição familiar na produção artesanal.
- Santiago do Norte: A Cachaça Caminhos de Santiago se destaca como uma cachaça de qualidade e possui outros rótulos, como a Cuiabá FC, uma homenagem ao time de futebol.
- Primavera do Leste: A Cachaça Bressan, produzida pela família Bressan, se destaca por ser feita de forma artesanal em uma região conhecida pela agricultura em larga escala, mostrando a diversificação da atividade rural no Estado.
A cachaça é, de fato, mais que uma bebida. É um testemunho da história, da luta e da riqueza cultural do Brasil. E para Nelson Alves, ela é, acima de tudo, um motivo de orgulho.
*Nelson Alves - Cachacista
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